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Da minha experiência, as pessoas erram muito menos do que que elas próprias pensam.

00:04

As pessoas acertam muito mais do que elas próprias acreditam.

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Eu sou o Xavi, vice-presidente de Experiência do Cliente na Factorial.

00:12

Tenho 17 anos de experiência profissional.

00:15

Atualmente, lidero uma equipa de 300 pessoas.

00:18

Se me perguntam qual é a minha habilidade: resolver problemas que tinham um impacto em equipas, em pessoas, na vida em geral.

00:34

Pode entrar.

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Senta-te.

00:45

Sinto-me sozinho.

00:49

Pode olhar para a caixa e tirar algo de aí?

01:03

Boa pergunta.

01:05

Como é que continuar a formar-te pode na progressão de carreira?

01:09

Questão interessante.

01:11

A evolução ao longo do tempo está muito ligada, eu diria, a nunca deixar de aprender.

01:17

E esse ponto foi muito importante para mim.

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Na verdade, a minha carreira deu muitos saltos e mudanças ao longo do tempo, precisamente por ter conseguido aprender coisas que não sabia antes.

01:28

E um dos exemplos mais claros era: eu comecei como engenheiro civil, de estradas em construção.

01:33

Todos os setores estavam um pouco em crise, porque o facto de o Governo estivesse em crise, que o orçamento público tivesse diminuído, estava a afetar a economia em geral.

01:41

Então, decidi fazer o MBA para resolver esse problema porque as pessoas não entendiam o que eu fazia.

01:48

Quando falamos com um recrutador, os recrutadores normalmente classificam-te.

01:52

Tu és marketing, és operações, és finanças, és comercial.

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Quando olhas para um engenheiro que se dedica à gestão de obras públicas, esse perfil faz um pouco de tudo.

02:02

Faz o planeamento, a execução, negocia com o proprietário, fecha os contratos.

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Então, para eles, isso era muito estranho e o que estava claro para mim era que precisava de ter um perfil um pouco mais completo e também falar a mesma língua porque eu não a falava. Também ainda não me tinha dedicado a compreender o que era cada um desses pilares ao longo da minha carreira profissional até então. Para poder fazer isso, foi muito importante conseguir novas habilidades.

02:29

E para conseguir isso, fiz um MBA e isso mudou completamente o meu perfil.

02:35

Isto permitiu-me entrar ou abrir portas em setores que, de outra forma, não teriam conseguido fazê-lo.

02:44

Foi isso que me permitiu depois avançar.

02:47

Quando, na Ferrovial, ofereceram-me continuidade profissional e um bom projeto, em troca de abandonar a formação.

02:56

Para mim, a decisão já estava tomada.

02:58

Isso permitiu-me ir viver para os Estados Unidos.

03:01

Aprender muitas outras coisas e ter uma experiência fora, que era algo que eu não tido até então.

03:09

E depois, em retorno, toda a parte da minha vida em consultoria, aprender muito sobre vários setores, interagir com pessoas muito inteligentes de aviação, serviços públicos e indústria aeroespacial.

03:23

Foi uma experiência brutal.

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A carreira profissional deve ter um fio condutor que tenha sentido, mas esse fio condutor não precisa ser especificamente uma indústria. É mais sobre como nos desenvolvemos em termos de competências.

03:37

Se me tivessem perguntado ao Xavi engenheiro civil que se dedicava a construção, onde vai acabar?

03:43

Bem, naquele momento eu provavelmente teria dito crescimento linear, dentro da mesma indústria.

03:48

Se me tivessem perguntado sobre aviação, aí já teria respondido de forma diferente. Porque aí já sabia que a minha evolução profissional não seria dedicar-me às finanças, dedicar-me às operações ou dedicar-me a uma indústria em particular, mas o que me apaixona é resolver problemas. E vou um pouco para onde há um problema que é interessante, independentemente do cargo e do setor.

04:18

E isso é coerência, mas é da minha carreira. Não necessariamente da carreira de outra pessoa.

04:23

E esta é também a parte interessante quando se trata de entender as pessoas que fazem parte das nossas equipas, porque cada uma tem as suas necessidades, as suas prioridades e também é preciso ajudar a compreender quais são, porque muitas pessoas ainda não as descobriram.

04:45

Um peluche.

04:49

Como passou de uma equipa de 2 para 75 pessoas em plena pandemia?

04:53

Sem ter de abrir a caixa? Ótima pergunta, porque foi uma experiência profissional que eu não esperava ter. Passei de fazer a gestão de uma equipa relativamente pequena numa indústria que está bastante lenta e faltava-me um pouco esse ponto de continuar a crescer profissionalmente a partir do do ponto de vista do conhecimento.

05:16

E também é verdade que, em termos salariais, estava um pouco estagnado, no último ano e meio a dois anos.

05:21

E isso fez com que eu ouvisse uma das minhas melhores amigas do mestrado, que estava precisamente numa startup, que não era muito conhecida na altura.

05:28

Estamos a falar do ano 2019, da Glovo, que agora é conhecida por todo mundo.

05:32

Fiz algumas entrevistas, a primeira com Recursos Humanos, mas não me convenceu.

05:36

Fiz a segunda com quem era então o diretor-geral da Espanha. e Portugal, com o Diego, e fiquei impressionado com o que ele me contou.

05:44

Diego é estratégia, aqui é expansão: temos que expandir a Glovo pela Espanha.

05:48

Disse que concordava, mas qual é a estratégia?

05:50

E houve uma frase que guardo comigo porque me cativou muito, que é: Bom, tu és o chefe de estratégia por isso tens de ser tu a responder.

05:58

Isto para mim foi um voto de confiança e, ao mesmo tempo, um grande desafio.

06:04

A parte interessante foi: primeiro, entender o que estavam a fazer.

06:08

Segundo, como estavam a fazê-lo.

06:09

Para isso, tive que ir ao departamento de operações, que naquela altura, eram eles os responsáveis pela expansão.

06:15

E perguntei: "Bem, em expansão, em quantas cidades estamos em média a chegar por mês?" Ao que respondem: "A cada mês, três, quatro,..." E aí disse, se já conseguiram fazer quatro cidades por semana e funcionou. Nós vamos montar um plano para fazer quatro cidades de lançamento, cada semana e vamos dimensionar uma equipa para que possa fazer isso.

06:40

Quando voltei para a equipa de operações que estava a fazer esta expansão e comentei o plano, chamaram-me de louco. "Isto não é possível." E depois fui falar com o departamento financeiro, e de facto aí havia uma certa preocupação.

06:52

A expansão para outros mercados, quando foi feita de forma muito acelerada, tinha custado muito dinheiro à empresa.

07:00

Ou seja, tinha um problema que era o facto de não ser autossustentável e aí houve muita conversa com o diretor financeiro da Glovo, o Edu, e propus-lhe: "Este é o meu plano de expansão.

07:11

Estas são as razões pelas quais vamos expandir para toda esta lista de cidades.

07:14

E sei que isto te preocupa, por isso tens o meu compromisso de que vamos fazer uma expansão autossustentável. De tal forma que, se a empresa em algum momento, tenha algum problema e isso possa implicar parar esta expansão, a única coisa que temos de fazer é recolocar as pessoas, mas tudo o que abrimos não vai consumir recursos.

07:35

E essa conversa foi muito interessante porque a frase que o Edu disse naquela conversa foi: Em ti, eu acredito e nessas condições podes fazer o que quiseres. E o que aconteceu foi passar Espanha e Portugal de 100 para 460 localizações em dois anos.

07:51

Ter uma equipa de expansão que, quando cheguei, era composta por uma pessoa, para uma equipa de 75 profissionais.

07:58

E depois, como convencer empresas que o teu produto é o mais adequado para elas?

08:05

Para que te deixem experimentar e para que te deixem iterar e evoluir?

08:09

Isto também é bastante interessante, a forma de convencer.

08:13

Dizer: "Bem, se não acredita nisto...

08:14

Deixe-nos mostrar e provar que é possível.

08:18

E, se não conseguirmos, não terás nenhum custo.

08:22

Nós cobrimos." Eu diria que, naquela altura, eu não tinha reputação de poder fazer isso, foi sobretudo, demonstrar que tinha uma visão clara das coisas.

08:32

Quando eu entrei, a primeira coisa que fiz foi mergulhar de cabeça e ser eu mesmo a explorar os números. Isso também ajuda muito.

08:40

Quando se demonstra esta proatividade desde o início, muda completamente o paradigma do que pensas sobre essa pessoa, e se depois demonstras que as tuas ideias são adequadas em outras coisas que não têm nada a ver, Ou seja, eu não demonstrei que sabia fazer uma expansão, mas sim que sabia "ler" os números, que tinha boas ideias, que era capaz de ajudar a melhorar outros colegas meus, ao diretor de Operações, ao diretor comercial, nas negociações.

09:04

Que também conseguia ter uma boa relação, com os diferentes stakeholders que tínhamos.

09:10

Isto acaba por criar um ambiente de confiança.

09:12

E, além disso, se o que dizes que vai acontecer, realmente acontece.

09:15

Se o compromisso que tinhas anteriormente, tanto em termos de quais são os resultados que vamos obter ou quais são os desvios e porquê, e isso fizer sentido e as pessoas vêem que isso acontece e que estás em controlo do que fazes... É muito mais fácil deixarem-te fazer coisas cada vez maiores, cada vez mais difícies e cada vez mais desafiantes. Porque na verdade, acaba por não ter tanto risco se soubermos que a pessoa terá tudo sob controlo. E isso muda completamente o paradigma.

09:46

O que mais vocês têm por aí?

09:48

Um novelo de fio.

09:52

Como é que teces? Esta é boa.

09:54

Como é que teces a confiança para que a equipa não tenha medo de falhar?

09:59

Isto começa desde o início.

10:03

Desde o momento em que se entra numa equipa, a forma como nos dirigimos a eles, como pedimos coisas e como se reage quando as coisas não saem como esperado. E quando já se tem uma equipa maior, a primeira mensagem quando entram para fazer parte dessa equipa também é muito importante. Só o facto de o responsável por essa equipa dedicar-lhe tempo, faz com que a pessoa se sinta valorizada desde o início.

10:29

Isto acontece quando a equipa ainda tem um tamanho razoável.

10:33

Eu fazia isto e as reuniões individuais quando tinha uma equipa até de 120 pessoas.

10:39

A partir daí, a integração das pessoas já levam muitas horas e é praticamente impossível fazer 1:1. Então, aqui já se faz mais em grupo. Que é o que eu estou a fazer agora.

10:48

Continua a ser importante ser o líder a transmitir a mensagem.

10:51

Não há nada mais impactante do que o diretor geral, o vice-presidente ou o CEO de uma empres, sentar-se contigo, mesmo durante 30, 15 ou 40 minutos, o tempo que tiver, e explicar um pouco para onde as coisas estão a ir: o porquê, qual é a posição que vais ocupar na equipa e explicar a importância que a tua equipa tem. É muito difícil conseguir esse nível de motivação com outra coisa.

11:17

Para mim, era importante entender quem são, por que vêm trabalhar connosco, o que esperam, o que é o que pretendem alcançar.

11:24

Explicar porque que a equipa é importante para mim e para a empresa e dar aquele impulso de motivação, sabem?

11:32

Este é o ponto de partida e, nessa mensagem, é extremamente importante transmitir que errar é uma coisa natural.

11:41

Se queres que as pessoas possam trabalhar, tens de dar às pessoas a capacidade de tomar decisões.

11:47

Tomar decisões implica assumir riscos e assumir riscos implica que, de vez em quando, vais errar e não há problema nenhum.

11:54

Mas o importante é perceber que se errou e quando se dá conta do erro cometido, é importante comunicar porque o que não quer é que outra pessoa cometa o mesmo erro.

12:04

Depois de comunicar, o seguinte passo é tomar outra decisão sobre como corrigir.

12:08

Transmitir isto e uma frase que eu sempre digo: Todos vocês têm uma peça do puzzle e espero que a tratem como se fosse o vosso próprio negócio. Portanto, espero que tomem decisões por vocês mesmos ou que pelo menos entreguem aos vossos managers as opções.

12:24

Se não sabem qual é a melhor ou se tomarem uma decisão e se enganarem, levantem a mão para que possamos ajudar.

12:30

Somos uma equipa de centenas de pessoas alguém deve consegue ajudar.

12:33

Esta mensagem é muito importante para mim e começo assim desde o primeiro dia.

12:38

O que é preciso fazer depois é cumprir. Não basta apenas dizer: "Olhem, vai ser muito bom.

12:44

Podem fazer isto porque não vamos culpar ninguém"...

12:47

E depois, se acontecer, culpamos. Isto não faz sentido nenhum.

12:50

Tem de se cumprir e ter essa tolerância porque as pessoas vão cometer erros.

12:54

Da minha experiência, as pessoas erram muito menos do que elas próprias pensam.

13:00

As pessoas acertam muito mais do que elas próprias acreditam.

13:03

Ninguém melhor do que a pessoa que está a lidar com um assunto específico para tomar uma decisão específica sobre esse assunto.

13:10

A outra parte é compreender as pessoas ou conhecê-las a partir de um ponto de vista motivacional. O que é que motiva à pessoa?

13:20

Para mim, é importante entender o que significa o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, em que ponto está. Para cada pessoa, este ponto de equilíbrio entre trabalho e vida, é diferente. É diferente porque há pessoas que valorizam o seu tempo livre, há pessoas que valorizam os seus fins de semana, há pessoas que valorizam conseguir entrar mais tarde mas depois dizem: "Olha, eu vou entrar mais tarde porque quero levar levar as crianças à escola, mas depois à tarde vou ficar um pouco mais porque sou mais produtivo." Há pessoas que, ao contrário, querem poder trabalhar à distância durante duas semanas porque moram noutro ou têm familiares noutro país, então querem ir para lá.

13:59

Há pessoas que dizem "Não, para mim o que é sagrado são os fins de semana. Durante a semana manda-me tudo o que quiseres, mas aos fins de semana eu não estarei tão disponível.

14:08

Talvez eu só faça uma verificação ou nenhuma." E entender isto, que implica conhecer toda a equipa, pelo menos sempre aos teus subordinados diretos, se possível, essa linha também. Porque é importante entender não só as pessoas que trabalham diretamente contigo, mas sim as pessoas que trabalham com toda a equipa.

14:27

Para mim, isso é muito importante, criar um ambiente super positivo se formos capazes de fazer isto bem. Como eu disse, muito complicado, especialmente nos tempos que correm, em que as agendas voam e todo o mundo está a correr.

14:39

Mas acho que é um tempo de qualidade que é preciso ter.

14:46

Eu recomendaria que todos que se esforçassem nisto, porque nos torna melhores pessoas e a ter melhores equipas.

14:58

Agora sim, está a soar bem. Além disso, diria que isto é um Boeing e diria que é certamente um 737. Enfim, isso é para fanáticos.

15:08

Como é que passaste de inimigo público número 1 a ganhar as tuas asas com a equipa?

15:13

Esta é boa.

15:14

Bem, não acho que fosse o inimigo público número 1, mas sim que havia um ponto de desconfiança.

15:20

Entrei na Vueling em 2016 porque fui contratado pela diretora financeira, naquela altura, Sonia Jerez, para assumir o controlo financeiro de Operações. Basicamente porque havia alguns desvios grandes dentro do departamento de Operações e não estava claro porquê.

15:36

Quando falamos de grandes desvios, estamos a falar de desvios de milhões de euros num mês.

15:40

Claro, tu entras e és a pessoa das finanças que se senta em Operações.

15:45

Entre aspas, também conhecido como "o espião".

15:48

Romper isso tem os seus elementos.

15:51

Afinal o que as pessoas viram desde o início foi o tipo do terceiro andar, que chegou para ver o que está a acontecer e que nos vai deixar em evidência perante toda a gente, quando chegar o fecho de contas mensal, certo?

16:06

E tirar esse rótulo é complicado.

16:08

Para mim, o mais importante volta a ser uma questão de conseguir gerar confiança, mas aqui é uma questão de confiança com os diferentes diretores e gerentes de Operações, no sentido de: tu não estás aqui para expor os defeitos quando há um problema, mas sim para ajudar a resolver os problemas.

16:24

Ajudá-los a identificar os problemas, compreender a razão desses problemas e quais são, e colocar ferramentas que possam ajudar a resolver o problema.

16:35

Demonstrar que o objetivo é colaborar e não auditar.

16:39

E quando se cria essa situação de confiança, no final o que acontece é que as pessoas se abrem e tu tens um livro aberto.

16:46

Passas a ter acesso a mais informações, o que permite gerir melhor as coisas.

16:50

Se tivermos mais informações, podemos avançar nas coisas, ser mais proativo, menos reativo e permite mitigar potenciais problemas antes de surgirem.

16:58

O que se deve procurar é como podemos colaborar e impulsionar para que as coisas melhorem e não se coloquem obstáculos aos outros.

17:05

Ou seja, o que temos de fazer aqui é: como posso ajudar-te?

17:09

Como é que se conquista todas as equipas que não são a tua equipa?

17:13

Ou seja, tratando-os como se fossem a tua equipa.

17:15

Especialmente se for uma posição um pouco transversal, haverá equipas muito diferentes.

17:21

Há sempre atritos entre as diferentes equipas de diferentes origens ou de natureza diferente. É normal.

17:27

Ou seja, entre uma equipa comercial e uma equipa financeira, entre uma equipa de Operações e uma equipa de Marketing.

17:34

As pessoas chocam-se e são como pedras.

17:37

Com o tempo, esse choque vai polindo-as e acaba por surgir essa pedra que parece um espelho, que é tão bonita.

17:45

No final, isto é, as formas de trabalhar que têm impacto.

17:49

Aqui o que se deve procurar é como refinar essas ideias e essa forma de gerir o dia a dia.

17:56

Mas, para isso, é necessário criar um ambiente inicial de confiança no qual as pessoas abrem-se e permitem ver tanto o que há de bom como o que há de mau.

18:06

Tanto o que controlam e podem ensinar numa apresentação como o que não controlam, nem gostariam que todos soubessem, não é?

18:14

Os momentos em que eles fizeram asneira, talvez por uma má decisão, pois a empresa sofreu uma perda económica e isso acontece em muitas empresas, especialmente as que são da cultura do sul da Europa.

18:28

Há muito disso de "eu tento esconder os meus erros ao máximo possível".

18:33

Acho que é mais uma questão cultural dos próprios países do que das empresas em si, mas é transferido.

18:38

Então, quando se consegue criar um ambiente de confiança porque eles veem que é alguém que procura genuinamente ajudar a fazerem melhor o seu trabalho, conseguimos ver o lado bom e o lado mau e começamos a entender o que não funciona e propor soluções que tornem o que é bom ainda melhor e o que é mau menos mau.

18:56

A pior coisa que se pode fazer com essa informação é divulgá-la publicamente.

19:00

Então, com essa informação, temos de perceber que parte temos de comunicar à equipa financeira e que parte dessa informação pode-se gerir sozinho com o departamento de operações.

19:13

No final, é também uma aprendizagem para as relações humanas em geral.

19:16

Bem, mas não há tanta diferença entre, digamos, as relações de trabalho e as demais relações.

19:22

Nas relações com as pessoas, tu tens o poder de dizer "bem, não quero ver mais este e vou-me embora".

19:27

No trabalho não acontece isto. Essa é a diferença.

19:29

Mas, ao tratá-los, trata os outros como gostarias que te tratassem a ti.

19:34

Perguntar genuinamente "como estás?" Esse ponto que demonstra que te preocupas e que as pessoas agradecem muito.

19:42

Ou seja, a atitude que tens todos os dias, desde que te levantas até que vais dormir.

19:47

Muda a vida de muitas pessoas.

19:48

Este ponto de sermos um pouco mais humanos, muda as coisas.

20:00

Bem, o que colocaram mais aqui...

20:04

Caramba, um carro de Fórmula 1, um Ferrari.

20:11

Como gerir uma equipa que quer crescer a toda velocidade?

20:16

Entender a equipa é fundamental. E, neste caso, suponho que podemos conectar a outro ponto da minha experiência, que foi a parte de consultoria.

20:26

Era uma equipa extremamente jovem e talentosa.

20:31

Eram pessoas com muita vontade.

20:34

Faziam as coisas com uma velocidade estupenda e tinham a capacidade de entrar em contacto com managers e diretores de empresas cotadas em bolsa ou que faziam parte de grupos internacionais.

20:46

Então isso faz com que eles se sintam muito valiosos porque as suas opiniões e análises vão a locais onde são tomadas decisões muito importantes.

20:54

Documentos que eles, aos 24 anos, ou análises que realizavam acabavam por ir ao diretor geral de uma empresa.

21:00

Isto gerava a sensação de que és um craque do universo.

21:04

Aí era muito importante ser duas coisas: entre aspas, um pouco o irmão mais velho, porque estamos a falar de pessoas que cresceram ou aprenderam coisas muito rápido, viram muitas indústrias e as suas opiniões são levadas em consideração por pessoas muito experientes que têm equipas muito grandes; E, ao mesmo tempo, ser o líder da equipa e tomar decisões a esse respeito.

21:27

E isso significa que, às vezes, as expectativas dos membros da equipa, não estavam a ser satisfeitas. Porque há pessoas que têm essa necessidade de crescer rapidamente. Ou como gerir alguém que tem essa expectativa de "não, não, é que eu quero ser diretor de consultoria antes dos 30 anos e, para isso, tenho que fazer ABCDE nestes timings, porque senão não consigo.

21:48

E, como isso ainda não aconteceu.

21:52

No momento em que eu queria, fiquei frustrado e estou a pensar em ir embora." Como é que se consegue redirecionar as conversas, fazer com que compreendam que o facto de terem traçado um plano de carreira ótimo, não significa que não podem chegar lá. Depende muito mais de como somos capazes de demonstrar o que se aprendeu com o tempo, mais do que os timings que colocaram na sua carreira.

22:15

E, acima de tudo, o ponto em que não se pode esperar que todos os astros se alinhem com as expectativas a toda a hora. Há momentos em que as coisas não funcionam assim e o importante é entender por que não? E ver o que se pode fazer para mudar isso.

22:29

Se realmente poderia ter acontecido outra coisa.

22:32

Porque também é verdade que muitas pessoas continuam a fazer sempre a mesma coisa, esperando que haja um efeito diferente.

22:38

E isso normalmente não acontece.

22:40

Se continuamos a fazer o mesmo, normalmente acontece o mesmo.

22:49

Vamos ver, vamos ver.

22:53

A princesa Leia.

22:55

Star Wars.

22:56

O que achas que faz de alguém um bom líder ou uma boa líder?

22:59

Para começar, tem de ter um lado humano.

23:02

Ou seja, tem de ser uma pessoa com capacidades técnicas. É muito difícil ser um bom líder se não fores capaz de de contribuir de alguma maneira para a equipa.

23:13

Isso não significa que tenha de aprender as habilidades técnicas específicas, mas sim orientá-los para a solução.

23:20

Esta parte é importante, mas para mim uma parte importante de ser um bom líder é ser empático. Compreender quais são os elementos que motivam a equipa e ouvir.

23:30

Das primeiras coisas que fiz quando cheguei à Factorial, para o cargo que ocupo agora, foi ter uma equipa de 100 pessoas.

23:38

Eu sabia que não poderia falar com as 100, seria muito difícil, mas pedi que me sentassem aleatoriamente com 40 pessoas.

23:46

Durante a primeira semana.

23:48

Quando fiz isto, o feedback foi devastador.

23:51

De todas as coisas que precisavam ser mudadas em termos salariais, em termos de reconhecimento, em termos de como a performance é executada, de como as promoções são realizadas,.. Isto define um pouco quais devem ser as prioridades e a agenda.

24:03

Para mim era muito importante que a equipa soubesse que os valores da empresa eram importantes também para eles e também para avaliá-los.

24:11

E fiz uma coisa que parecia muito tola, mas imprimi os valores da Factorial e afixá-los nas paredes. E, na avaliação de desempenho, que até na altura, mediam-se apenas com resultados, passei a avaliar toda a minha equipa pelos resultados e alinhamento com os valores.

24:27

Acreditem, o impacto foi incrível! Fez com que as pessoas também percebessem que não se recompensa apenas com o facto de atingirem o objetivo mensal ou atingirem o objetivo trimestral, mas que também é importante como se chega ao objetivo.

24:44

Se atingires o teu objetivo pisando todas as pessoas à tua volta não é assim que queremos, pelo menos nesta equipa não funciona assim.

24:52

Se tivéssemos que escolher três habilidades: Ouvir, seria uma delas.

24:57

Comunicar é a outra. É difícil ser um bom líder sem ter uma boa comunicação e, depois, tomar decisões de forma estratégica.

25:08

Para mim, estas três habilidades são as três principais habilidades para ser um bom líder ou uma boa líder.

25:14

Transmitir intensidade, calma, nervosismo ou caos, vão fazer com que a tua equipa sinta mais ou menos pressão, seja mais ou menos intensa, mais ou menos caótica.

25:28

E isso é gerado por ti e podes até gerá-lo sem usar palavras. É importante compreender também este ponto.

25:34

Ser capaz de transmitir a ideia de: a situação está controlada, tem de ter demonstrado anteriormente.

25:41

Ou seja, vai ser difícil tirar a pressão da equipa, se não demonstrares anteriormente que tens o controlo da situação e saber equilibrar esse ponto de intensidade.

25:51

Tens de manter a calma, mesmo que esteja tudo caótico ou que estejas num momento de muita intensidade. Transmitir que estamos a ir na direção que tínhamos planeado, "sim, vamos". Não mintas à equipa.

26:04

A minha primeira recomendação a qualquer pessoa é: à tua equipa, não podes mentir. Tens de transmitir a realidade, mas a forma como transmites é importante.

26:11

Ou seja, se as coisas não estão a funcionar, é preciso dizer que não estão a funcionar, mas temos um plano para isso, se tivermos.

26:18

E, qual é esse plano?

26:20

E transmitir calma com esse plano.

26:22

Mostrar que temos um caminho, uma rota e que estamos a caminho é algo que, no final, faz com que as pessoas fiquem.

26:30

Mais do que a própria estabilidade em si, porque isto também é estabilidade.

26:35

Ou seja, as coisas que mudam com o tempo, mudam e têm um sentido de mudança, é também estabilidade.

26:40

Estabilidade não é imobilidade.

26:42

Para mim, este ponto é importante: um líder é aquele que é capaz de gerar esta sensação de tranquilidade, de estabilidade, se assim podemos chamar, às suas equipas.

26:53

Outra coisa importante num líder é ter essa capacidade de estar disponível, mesmo que seja pouco, para as suas equipas.

27:01

Há uma coisa que implementei que foi uma sugestão dos líderes de equipa de Gestão de Contas da Factorial, que é: todas as últimas sextas-feiras de cada mês, tenho três horas livres na minha agenda para qualquer membro da minha equipa pode bloquear,em blocos de 20 minutos, para falarem sobre o que quiserem.

27:17

Estão sempre cheios, é curioso.

27:19

As sextas ficam lotadas, mas os temas são muito variados.

27:22

Como líder, tens a sorte, que considero também ser uma responsabilidade, de poder dedicar parte do tempo a ajudar as pessoas da organização a sentirem-se especiais.

27:39

Isto também é engagement.

27:41

Dedicar 30 minutos a uma pessoa que está no call center, para que me conte os problemas que tem, se a ferramenta funciona, como os clientes estão a avaliá-la?

27:53

E quais são as suas ideias para melhorar?

27:56

Não podes fazer isto com toda a gente, porque não tens tempo, mas se o fizeres o suficiente, que de qualquer forma tens de dedicar dez horas por mês ou até menos, digamos quatro ou cinco horas por mês fazer isto, e fazê-lo em diferentes pontos da organização, as pessoas sentem-se especiais e isso também se transmite.

28:19

Isto também é cultura. E isto também muda a percepção.

28:27

Vamos ver o que há por aqui.

28:31

O M do Metro.

28:33

Aos 24 anos, teve de liderar uma equipa de 230 pessoas.

28:37

Como conquistou a confiança, sendo o membro mais jovem?

28:41

O mais jovem e o mais inexperiente.

28:43

Porque eu estava a sair da universidade. Entrei neste mundo, deram-me a responsabilidade como chefe de produção em funções em três obras diferentes, três estações de metro diferentes. Em cada uma delas há um responsável diferente que poderia ser o teu pai, porque estamos a falar de pessoas com muita experiência, mais ou menos 50 anos, faixa etária.

29:08

Claro, tu és um novato de 24 anos, tu sabes. Quer dizer, eu poderia muito bem ser filho dele.

29:12

E acontece que eu era o chefe dele.

29:14

Tecnicamente falando.

29:15

Mas eles tinham o conhecimento de como as coisas funcionavam.

29:20

Podes tentar afirmar-te lá, mas vais direto ao fracasso.

29:26

Sabes?

29:26

E aqui, um ponto importante é como se ganha a confiança, E voltamos novamente à questão de como conquistar essa confiança e como se ganha a confiança das pessoas, e tem de se que encontrar uma maneira.

29:35

A minha maneira foi: "Não posso competir com estas pessoas, nem consigo dizer-lhes como fazer as coisas, mas há coisas que os encarregados e os capatazes não são capazes de fazer ou ver porque não têm a formação adequada".

29:51

E aí, por exemplo, há uma anedota bastante interessante sobre a linha nove que é: estávamos a construir uma estação de metro, têm que imaginar a obra pela metade.

30:01

Estávamos a construir o átrio da estação e uma coisa chamada telas, que são as paredes, que são construídas a partir da superfície quando se começa e que quando se escava normalmente já estão lá. É o que deveria acontecer.

30:17

Bem, faltava uma.

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Grande problema, porque isso significa que, até isto estar executado, não podemos continuar com outras estapas dentro da obra e, portanto, há um atraso.

30:26

Então, o que eu fiz ali foi pedir para me trazerem as plantas.

30:32

Touxeram-me as plantas do que, em teoria, deveria estar construído ali.

30:36

Eu fiz um esboço e digo sim, sim, sim, sim, vamos fazer isto, Edu. Tudo bem, ok.

30:40

Pedimos e construímos.

30:42

Havia o risco de eu estar errado e de termos que desfazer tudo o que foi feito, o que teria causado um atraso ainda maior e prejuízo económico.

30:52

Mas enfim, eles vieram, montaram, riscaram, cimentaram, continuamos a fazer o trabalho e enviamos, obviamente, o esboço com tudo para o departamento técnico.

31:00

Após um mês e meio, quando já estava pronto, quando já estávamos a colocar as paredes à frente do betão, recebi uma mensagem da Rosário, a rapariga que estava no Serviço Técnico: "Estivemos a ver o esboço que nos enviaste e é exagerado.

31:14

Poderia ser otimizado se alterarmos isto, isto e isto".

31:18

Disse à Rosário, "não vamos otimizar porque está cimentado, há três semanas" E pergunta: "E com que programa calculaste isso?" Não tinha calculado com um programa, usei a lógica.

31:27

Se a parede ao lado e a parede ao lado forem assim, a esta vou colocar mais aço, e mais reforço, portanto, vai aguentar.

31:34

Disse: "Ah, está bem, então fazemos assim". Confirmado.

31:37

Assumir riscos controlados dentro da área de conhecimento também libera e demonstra, em primeiro lugar, confiança comigo mesmo.

31:46

Dois, capacidade e competências técnicas.

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E isto traz para a equipa que eles não têm. É assim que também se ganha a confiança e o respeito das pessoas.

31:55

O que acontece é que é preciso tomar decisões ou correr riscos calculados.

32:00

Também não nos vamos tornar kamikazes e levar isto ao pé da letra.

32:04

Esta inquietação para que as coisas continuem fluindo e evoluindo, tentando minimizar a paralisia, também é algo que as pessoas valorizam muito.

32:11

Porque o normal é que as coisas parem quando há um problema e quando somos capazes de desbloquear isso com pequenas decisões, isto também muda a percepção das pessoas e faz com que elas te valorizem e valorizem o trabalho das outras pessoas também, porque evoluímos mais rápido.

32:27

E assim consegui o respeito dos responsáveis e dos capatazes da linha nove.

32:40

O que temos aqui. Uma bússola.

32:44

A pergunta de um milhão. Deixámos esta para o final.

32:47

Como manter motivada a equipa e a ti mesmo, sem perder o rumo? [Suspira] Como manter a equipa motivada? É muito importante entender o que os motiva, o que é importante para eles, Quais são os seus objetivos profissionais?

33:07

Quais são os seus objetivos pessoais?

33:09

Como posso impactar positivamente?

33:12

E aqui está uma coisa que o meu chefe atual faz muito bem, que é fazer muitas perguntas para entender como a vida pessoal se relaciona com a situação profissional.

33:26

E há outra coisa que também faz muito bem, que é tentar antecipar-se às necessidades pessoais.

33:32

E isto, quando se tem um líder que tenta fazer isto com a equipa, é uma loucura porque está muito muito bem. É importante compreender as pessoas.

33:43

E depois, obviamente, é preciso dar-lhes autonomia de gestão, capacidade de liderança, capacidade de errar, tomada de decisões A pior coisa que se pode fazer para motivar alguém é dar ordens contraditórias, quando as decisões já estão tomadas.

33:56

Isto mata qualquer líder que possas ter abaixo de ti.

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E depois há a questão de criar esse ambiente de transparência, abertura, proteção, onde qualquer assunto pode ser abordado.

34:10

Isto faz com que a relação flua de uma forma que não flui em outras circunstâncias.

34:16

Mas se falamos em não perder de vista os objetivos, porque no final, o que se pretende é conseguir estabelecer objetivos suficientemente ambiciosos para tirar as pessoas da sua zona de conforto.

34:31

Ou seja, não podem ser objetivos que possam ser mantidos ou serem fáceis de serem alcançados.

34:37

E, ao mesmo tempo, não podem ser objetivos muito loucos que não vejam a possibilidade de como atingir.

34:46

Mas se falamos em manter a equipa motivada, é preciso manter a equipa motivada, com uma visão clara de para onde vão. É preciso manter a motivação comemorando as vitórias, das grandes e das pequenas.

34:58

Que a equipa saiba que está a fazer as coisas bem. É importante.

35:01

Para mim, é muito mais importante discutir como não desmotivar as pessoas.

35:06

E há uma coisa que não contei, que é: Há coisas que guardei ao longo da minha vida profissional, de coisas que me aconteceram e que poderiam ter desmotivado muito as pessoas e guardo-as porque um dia pretendo escrever um livro, que se chamará «Como não desmotivar a equipa. 100 coisas que se deve evitar».

35:25

Na minha vida, tive alguns momentos em que não tinha clareza sobre o que queria fazer, para onde ir ou que caminho tomar.

35:33

E para mim, as três perguntas que me ajudaram foram a primeira pergunta é: Em que é que sou bom ou boa?

35:40

Há algo em que tu és um dos melhores 1% do mundo, com certeza.

35:45

A segunda coisa é: O que é que gostas?

35:48

O que te apaixona?

35:49

O que é que te faz levantar de manhã e dizer "uau, eu adoro isto"?

35:53

E a terceira é: Onde queres chegar?

35:59

E isso vem junto com uma segunda parte dessa pergunta, que é: "O que estás disposto a sacrificar?".

36:05

Ou investir para chegar lá?". É preciso respondê-las com sinceridade e, depois, de vez em quando, há que ir fazendo estas reflexões.

36:13

Fazer perguntas a si mesmo e respondê-las com sinceridade permite que sejam tomadas decisões sem remorso.

36:20

Para mim, é muito importante poder dormir tranquilo todas as noites com as decisões que tomas, e isto só consegues fazer se fores sincero contigo mesmo.

36:30

E se disseres a verdade às pessoas, porque se não, ter que lembrar as mentiras, todos os dias, é muito complicado.

36:36

E estas reflexões não são reflexões de dois minutos.

36:39

Não é uma ação-reação como as decisões dirárias.

36:44

Precisamos de criar um contexto diferente.

36:47

Se não, não funciona.