Nosso segundo artigo da série de entrevistas com profissionais do ecossistema de startups portuguesas é com o Filipe Portela, CEO da IOTech – Innovation on Technology. A IOTech é uma das startups portuguesas mais inovadoras no sector de desenvolvimento web e de soluções digitais. Fundada em 2018, a empresa visa desenvolver aplicações globais e responsivas capazes de se adaptar a todos os tipos de plataformas e empresas.
Devido à sua parceria com duas das principais universidades portuguesas, a Universidade do Minho e o Politécnico do Porto, a IOTech é também um berço de formação para novos profissionais do sector de tecnologia.
Na entrevista a seguir, o CEO Filipe Portela explicar-nos-á alguns dos seus principais desafios, seus diferenciais para se destacar e as suas dicas para crescer e reter talentos.
Entrevista com Filipe Portela, CEO da IOTech
Em poucas palavras, como explica a missão da IOTech? Qual é o problema que está a resolver?
Para explicar a missão da IOTech, é preciso ir à sua origem. Comecei a minha vida profissional na área acadêmica, onde sou professor e Investigador na Universidade do Minho. Depois de muitos anos de investigação e ensino percebi que, hoje-em-dia, ainda não se está a tirar o máximo partido da tecnologia por forma a ajudar as pessoas. Nesse sentido, entre 2016 e 2018, comecei a trabalhar sobre uma ideia de negócio que não passava por ter um produto, mas sim um paradigma de atuação.
A ideia consiste em criar soluções inovadoras que conectam a tecnologia às pessoas, sejam elas cidadãos comuns, funcionários de uma empresa ou clientes. Então, a partir daí, nós criamos o Paradigma IO e começamos a desenhar um conjunto de soluções (ioSolutions) diferentes e inovadoras.
Neste contexto, exploramos e combinamos diferentes áreas do saber: inteligência artificial, análise de dados e desenvolvimento de aplicações web e mobile, com o intuito de criar soluções diferenciadoras e à medida das necessidades das empresas.
Começo por destacar o ioAttend, que é uma aplicação mobile para registo de presença. A aplicação possui autenticação tripla e pode ser utilizada tanto para picar a entrada no local do trabalho, quanto para confirmar que um utilizador está presente num determinado local, evento ou reunião. Esta solução é também facilmente integrada com outros softwares, inclusive os de gestão de recursos humanos para complementá-los, como é o caso da Factorial.
Na mesma linha, desenvolvemos outra solução que possibilita a gestão completa de reuniões. O ioGuest permite acompanhar todo o fluxo de uma reunião desde a intenção de reunir até à sua conclusão, bem como conferir, mesmo depois, toda a informação referente a ela. Esta solução permite também a integração com softwares de calendário e de videochamadas que já existem, como o Google Calendar, o Outlook e o Hangouts. A equipa é o recurso mais valioso da IOTech. Nós trabalhamos para as pessoas e, por isso, contamos com elas para criar uma sociedade cada vez mais digital e acessível a todos.
Qual é o vosso diferencial para se destacar no mercado?
Entendemos que hoje uma startup não pode depender unicamente das suas soluções, a não ser que estas sejam únicas e consigam atrair rapidamente investimento, caso contrário, dificilmente a empresa poderá ter o sucesso pretendido.
Por isso, optamos por juntar uma equipa forte num conjunto de áreas viáveis para a empresa e capazes de produzir soluções à medida. Isto permite-nos trabalhar com a indústria, que é onde, neste momento, temos uma maior sustentabilidade de negócio. E atuamos em áreas como, implementação de lojas online, desenvolvimento de aplicações web/mobile e a análise de dados para apoio à decisão.
É importante salientar que a IOTech procura não impor novos serviços, mas sim complementar as soluções já utilizadas nas empresas. Pegamos no que já existe e fazemos ligações com as nossas soluções. Nós procuramos acima de tudo aumentar a satisfação dos clientes, dos funcionários e de qualquer outra pessoa que esteja ligada à empresa.
Quais são as medidas tomadas pela IOTech durante a quarentena?
Estamos todos a trabalhar remotamente devido à quarentena no contexto do Covid-19. Nos últimos dias, adaptamo-nos às videochamadas, ao trabalho e comunicação online e trouxemos os clientes “connosco”. Assim, conseguimos salvaguardar a equipa, reduzir os efeitos desta pandemia e voltar o mais cedo possível à normalidade.
Conte-nos um pouco sobre os vossos trabalhos de maior relevância e os clientes até o momento.
Neste momento, estamos a trabalhar com diferentes clientes relevantes para o mercado português. Um deles é a Riopele, que é uma das empresas têxteis mais antigas do país e uma referência internacional no sector. Com eles, trabalhamos duas vertentes: a análise de dados e o desenvolvimento web.
A Riopele precisava de um parceiro tecnológico que permitisse explorar um conjunto de soluções diferentes relacionadas com a indústria 4.0. A contínua produção de dados por parte das máquinas presentes no chão de fábrica possibilitou a exploração de ferramentas analíticas. Neste campo, utilizamos o SAP e o PowerBI por forma a produzir um conjunto de indicadores de negócio e de apoio à decisão.
Ao nível do desenvolvimento web, estamos a dar suporte ao desenvolvimento de uma plataforma interna que integra todas as soluções digitais da Riopele, através da digitalização de processos e integrações com o SAP e outras soluções Riopele.
Para si, quais são os principais desafios e os próximos passos das startups portuguesas dentro do país e na sua expansão?
O maior desafio que temos hoje-em-dia, prende-se com os recursos humanos, que vai desde o recrutamento até à retenção de talento, sem esquecer a gestão de pessoas. Quando uma Startup está a começar, tem duas possibilidades: ou encontra um investidor para a ajudar a crescer ou tenta ir por ela própria, como foi o caso da IOTech.
A maior dificuldade na contratação passa por encontrar o colaborador ideal, que tenha os valores humanos da empresa e que este esteja disposto a unir-se à IOTech, já que disputamos este talento com centenas de startups e empresas mais consolidadas. Para tentar ultrapassar este desafio, criámos a ioAcademy.
“Não é difícil encontrar pessoas, o desafio é encontrar a pessoa certa para o que nós precisamos e com o nosso orçamento”
Quanto ao mercado internacional, o maior desafio é entrar no mercado certo. Nós estamos cá em Portugal e vemos uma infinidade de mercados onde podemos entrar mas, para isso, precisamos de encontrar o parceiro certo, uma pessoa ou empresa que já tenha as portas abertas noutros países e que nos possa ajudar. Se nos juntarmos a um parceiro e utilizarmos os seus canais de marketing, se calhar corremos menos riscos.
Já que estávamos a falar sobre os Recursos Humano, como é a vossa retenção de talentos e a vossa parceria com as Universidades?
Hoje temos uma parceria com a Universidade do Minho e com o Politécnico do Porto.
Conheço bem os dois mundos, académico e empresarial e sei o quanto é difícil para uma empresa contratar, por isso, e apesar de ser professor Universitário não uso esse mecanismo de contratação. O nosso processo é transparente e passa por lançar desafios académicos abertos a todos os interessados e são os alunos que nos escolhem e não nós a eles. Nós apostamos em alguém porque acreditamos que essa pessoa possa ser um valor e que a mesma depende de nós para crescer e, no final, quando nós tivermos a necessidade de contratar, vamos contratá-la. Nem sempre é possível e, por vezes, até são os próprios alunos que não se adaptam à nossa forma de estar e trabalhar.
É importante ressaltar que todas as pessoas contratadas pela IOTech passaram pela academia de formação, a ioAcademy. Nós não vamos buscar fora porque para já temos a capacidade de reter talento. Não é reter talento através do talento, mas sim através da formação. Nós damos oportunidades de os alunos complementarem o ensino durante a universidade. Este não é um processo de dois ou três meses, é um processo de vários meses. Além disso, deixamos muito claro a diferença entre o que é formação e o que é trabalho. Internamente, procuramos dar apoio ao nível académico e profissional, um processo moroso e em certa parte custoso, porque os membros da IOTech têm de dedicar uma parte do seu tempo à formação e nem sempre é fácil/possível.
Como a Factorial vos ajuda no dia a dia da IOTech?
É um software que vale a pena na gestão de recursos humanos, já que aquilo que precisamos está numa mesma plataforma e se ajusta às nossas necessidades. E aqui, na IOTech, temos uma brincadeira de que se a IOTech tivesse desenvolvido um sistema de recursos humanos seria a Factorial.
Eu escolhi a Factorial porque posso centralizar os dados de todos os colaboradores, ter acesso à sua documentação e eles podem marcar as suas férias.