A presença de mulheres em cargos de liderança tem crescido ao longo dos anos, mas os desafios persistem, especialmente em Portugal. Embora tenham sido feitos avanços significativos em termos de políticas de igualdade de género, ainda existem barreiras estruturais, culturais e sociais que dificultam a ascensão das mulheres ao topo das organizações. A natalidade, os contratos temporários e a dificuldade de conciliar a vida profissional com a pessoal são apenas alguns dos obstáculos que muitas mulheres enfrentam ao tentar alcançar posições de liderança.
Saiba qual é a situação das mulheres em cargos de liderança, os principais desafios que ainda enfrentam e as vantagens que a sua presença traz para as empresas e equipas.
Tabela de conteúdos
- A situação atual das mulheres em cargos de liderança
- Os principais desafios das mulheres no mercado de trabalho
- As vantagens de ter mulheres em cargos de liderança
- Iniciativas para promover a igualdade de género na liderança
A situação atual das mulheres em cargos de liderança
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em Portugal, as mulheres representam cerca de 50% da população ativa, mas apenas cerca de 34% dos cargos de gestão são ocupados por elas. Em posições de topo, como CEO ou administração de empresas, essa percentagem é ainda menor, ficando abaixo dos 20%.
Um estudo recente da McKinsey & Company, intitulado “Women Matter Portugal“, revelou que as mulheres ainda estão longe de alcançar uma representação equitativa nas posições de liderança corporativa. A pesquisa destaca que, apesar de haver progressos, a igualdade de género na liderança ainda enfrenta grandes entraves.
Os principais desafios das mulheres no mercado de trabalho
O impacto da natalidade na progressão da carreira
A maternidade continua a ser um dos principais fatores que impactam negativamente a carreira das mulheres. Em Portugal, muitas mulheres ainda enfrentam discriminação no local de trabalho devido ao facto de poderem engravidar. Algumas empresas hesitam em promover ou contratar mulheres em idade fértil, temendo ausências prolongadas devido à licença de maternidade.
Além disso, mesmo após o regresso ao trabalho, muitas mulheres enfrentam dificuldades em conciliar a vida profissional e familiar, uma vez que continuam a assumir uma grande parte das responsabilidades domésticas. Consequentemente, há menos disponibilidade para horas extras, networking ou oportunidades de formação, fatores essenciais para a progressão na carreira.
Contratos temporários e precariedade laboral
Outro fator que dificulta a ascensão das mulheres a cargos de liderança é a elevada taxa de contratos temporários entre as trabalhadoras. Em muitos setores, as mulheres estão mais representadas em empregos precários e de curta duração, o que reduz as suas oportunidades de crescimento dentro das empresas.
Além disso, a falta de estabilidade laboral dificulta o planeamento de carreira e impede que muitas mulheres assumam posições de maior responsabilidade. O acesso a formação contínua e a programas de desenvolvimento profissional também é prejudicado quando há instabilidade no vínculo contratual.
O síndrome do impostor e a falta de modelos femininos
Muitas mulheres sentem que precisam de provar constantemente o seu valor para serem levadas a sério em ambientes corporativos dominados por homens. Isto está diretamente relacionado com o chamado “síndrome do impostor”, um fenómeno psicológico em que a pessoa duvida das suas capacidades e sente que não merece estar na posição que ocupa.
A falta de referências femininas em cargos de topo também contribui para esse sentimento. Sem modelos de sucesso a seguir, muitas mulheres podem sentir que não têm espaço para crescer dentro da empresa, o que pode levar à desistência de oportunidades de promoção.
Diferenças salariais e falta de transparência
As disparidades salariais entre homens e mulheres são um problema global, e Portugal não é exceção. As mulheres continuam a ganhar, em média, menos do que os homens, mesmo ocupando cargos de responsabilidade similares. A falta de transparência salarial em muitas empresas torna ainda mais difícil identificar e combater essas desigualdades.
Além disso, as mulheres tendem a negociar salários e promoções com menos frequência do que os homens, seja por receio de represálias ou por influência de normas culturais que desencorajam comportamentos assertivos em mulheres no ambiente de trabalho.
As vantagens de ter mulheres em cargos de liderança
A presença feminina em cargos de liderança é muito mais do que uma questão de igualdade. É um fator estratégico para o sucesso das empresas. Diversos estudos demonstram que organizações com maior diversidade de género nos cargos de chefia apresentam melhores resultados financeiros, maior inovação e um ambiente de trabalho mais saudável.
Melhor desempenho financeiro
Um estudo da consultora McKinsey mostrou que empresas com maior diversidade de género na gestão têm 21% mais probabilidade de alcançar maior lucratividade. Isso ocorre porque a diversidade de pensamento e experiências resulta em melhores decisões estratégicas e maior capacidade de adaptação ao mercado.
Maior inovação e criatividade
Equipas diversas promovem um ambiente mais inovador e criativo. A combinação de diferentes perspetivas leva a soluções mais eficazes e inovadoras, ajudando as empresas a destacarem-se num mercado competitivo.
Melhor gestão de equipas e cultura organizacional
As mulheres tendem a adotar estilos de liderança mais colaborativos e inclusivos, o que fortalece a cultura organizacional e melhora a comunicação interna. Estudos indicam que líderes femininas são mais propensas a valorizar o bem-estar dos colaboradores, promovendo um ambiente de trabalho mais equilibrado e produtivo.
Maior foco em responsabilidade social e sustentabilidade
Empresas lideradas por mulheres demonstram maior preocupação com questões sociais e ambientais. A diversidade na gestão leva a decisões mais equilibradas e sustentáveis, alinhadas com as expectativas dos consumidores e investidores atuais.
Iniciativas para promover a igualdade de género na liderança
Para superar os desafios mencionados, é essencial que governos e empresas adotem medidas concretas para aumentar a presença feminina nos cargos de liderança. Algumas iniciativas eficazes incluem:
1. Programas de mentoria e desenvolvimento de liderança
Criar redes de mentoria para mulheres pode ajudá-las a desenvolver as competências necessárias para alcançar posições de liderança. Empresas que investem em programas de formação e coaching para mulheres têm maior sucesso na retenção e progressão de talento feminino.
2. Políticas de flexibilidade e conciliação trabalho-família
A implementação de horários flexíveis, trabalho remoto e licenças parentais partilhadas são medidas fundamentais para reduzir a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres no local de trabalho.
3. Transparência salarial e promoção com base no mérito
Estabelecer políticas de transparência salarial e critérios objetivos para promoções ajuda a combater as desigualdades salariais e garante que as oportunidades de progressão sejam justas para todos os colaboradores.
4. Metas de diversidade e inclusão
Algumas empresas têm estabelecido metas específicas para aumentar a presença de mulheres em cargos de liderança. Essa abordagem ajuda a criar um ambiente mais inclusivo e equilibrado.
Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos para alcançar cargos de liderança em Portugal. A maternidade, a precariedade laboral e a falta de modelos femininos continuam a ser barreiras reais para a ascensão profissional das mulheres. No entanto, os estudos mostram que a diversidade de género na liderança traz inúmeras vantagens para as empresas, desde um melhor desempenho financeiro até uma cultura organizacional mais saudável.
Promover a igualdade de género no mundo corporativo não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para qualquer organização que queira prosperar num mercado cada vez mais competitivo. Cabe às empresas e às políticas públicas criar condições mais favoráveis para que as mulheres possam ocupar os lugares que merecem e contribuir plenamente para o crescimento económico e social.