As constantes mudanças na forma como trabalhamos e a progressiva transformação tecnológica têm impactado diretamente no funcionamento das organizações. Diante de tantas mudanças no mercado de trabalho, as empresas precisam estar mais atentas do que nunca. A busca por novos talentos tem sido um dos grandes desafios neste momento. É neste contexto que o papel do profissional de Talent Acquisition ganha ainda mais força.
A relação entre candidatos e empresa torna-se, agora, ainda mais complexa, trazendo exigências mais específicas de ambas as partes. E neste desafio de encontrar os melhores talentos para as organizações, é preciso ter adaptabilidade e atenção às novas tendências e tecnologias que surgem no mercado.
Mas afinal, qual a diferença entre o Talent Acquisition e o recrutamento tradicional? Como saber quando e de que forma praticá-los? O que os talentos esperam das empresas? O que mudou nos últimos tempos?
Nesta entrevista, conversamos com Sónia Dias Barbosa, coordenadora de Talent Acquisition do Grupo Casais. Sónia partilhou conosco suas experiências e nos contou como os profissionais de Talent acquisition atuam e o que é preciso para encontrar os melhores talentos diante de um mercado em constante transformação.
Leia a entrevista completa abaixo e veja as principais dicas e desafios deste processo que ganha cada vez mais importância no departamento de RH.
1) Antes de mais nada, conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional. Como chegou ao cargo em que está atualmente e porque escolheu esta área?
Tenho formação académica em Psicologia pela Universidade de Coimbra e iniciei o meu percurso profissional na área da formação profissional onde me mantive durante 6 anos. Ao fim desse tempo surge a oportunidade de agarrar um desafio na área do recrutamento e seleção e desenvolvimento. Aqui tive oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a área do recrutamento e de começar a desenvolver mais competências nesta área, com uma ligação muito próxima ao desenvolvimento de pessoas.
Ao fim de sensivelmente um ano e meio agarro o desafio do Grupo Casais. Foi aqui que iniciei a minha especialização na área do recrutamento e seleção, primeiro como técnica e depois como coordenadora da área. Neste momento, as minhas atividades prendem-se com a coordenação da equipa de Talent Acquisition do Grupo Casais, com uma clara missão de valorizar o capital humano, através do domínio tecnológico e das melhores experiências, acreditando sempre que as pessoas, o seu talento, motivações e conhecimentos são o nosso maior património.
Por isso, tentamos sempre encontrar e captar os melhores talentos, valorizando as suas competências técnicas e profissionais.
2) Para começar, o que faz um profissional de Talent Acquisition e quais as suas principais atividades no dia a dia?
Talent Acquisition não é simplesmente recrutar e selecionar. Há muita especificidade, conhecimento por detrás da função.
Um profissional desta área precisa de muito mais que conhecimentos específicos. É necessário entender como o negócio onde estamos inseridos funciona, quais são os desafios atuais e futuros, deve-se estar atento a novas tendências e a novas tecnologias disponíveis no mercado.
Temos de ser um profissional atento ao feedback da liderança sobre o processo de ponta a ponta, além do feedback dos candidatos e novos contratados. Resumidamente, diria que para sermos um bom profissional de Talent Acquisition precisamos de:
1. Conhecer o negócio e as estratégias da organização;
2. Conhecer e estar constantemente atualizado sobre o mercado de trabalho;
3. Estar em constante contato com os clientes internos e ter a capacidade de aconselhá-los quando necessário;
4. Ter capacidade para negociar, vender ideias;
5. Atualização permanente dos processos de trabalho;
6. Fazer benchmarking para identificar as melhores práticas de R&S no mercado; 7. Conhecer e saber utilizar as novas tecnologias;
8. Construir um forte networking;
9. Estar atualizado com a leitura específica da área, formação.
O nosso dia-a-dia é sempre agitado, movimentado e cheio de desafios. É necessária uma boa dose de resiliência e capacidade para resolver problemas. O mercado sofre muitas mudanças o que faz com que a forma como recrutamos hoje amanhã já esteja obsoleta e isso obriga-nos a estar sempre em mudança e adaptação. Atingir o sucesso nesse novo mundo exige um compromisso contínuo e apaixonado para dominar o tema, muito mais do que no passado foi exigido.
3) Muitas pessoas pensam que Talent acquisition e recrutamento e seleção são sinônimos. Existe alguma diferença marcante entre as duas práticas?
O conceito Talent Acquisition, é uma reação das empresas às novas gerações e à mudança na sociedade, que valoriza menos hierarquia, que tem informação e acesso às redes sociais, que prevê a construção de relacionamento mesmo com o candidato não selecionado.
É uma abordagem diferenciada frente ao modelo tradicional de recrutar e selecionar e envolve uma perspectiva estratégica, desde a pesquisa de mercado, alinhamento da vaga com os objetivos de negócios, definição dos talentos, até ao fortalecimento da marca empregadora.
A Sociedade de antigamente era mais previsível, atualmente estamos numa fase de rápida transformação. Precisamos identificar a capacidade de adaptação às mudanças, vontade de fazer diferente. Essa abordagem também implica que os candidatos devem selecionar as empresas nas quais querem trabalhar, com as quais se identificam.
O Recrutamento e Seleção do passado era a porta de entrada do RH, com objetivo específico de preencher vagas. Talent Acquisition vai mais além. É um estreitamento do relacionamento com os talentos do mercado, um canal de mão dupla, que nos permite apresentar a empresa, valores, propósito e quem somos como organização. Contribuir com o desenvolvimento das pessoas, não apenas como profissionais, mas como indivíduos, assumindo a corresponsabilidade por uma sociedade mais sustentável.
No passado, o mais relevante era a análise do CV, a formação acadêmica, o tempo de experiência, etc. Atualmente, queremos entender mais: no que a pessoa acredita, quais os seus valores, o que realizou, quais são as suas ambições – a sua essência e a sua experiência de vida, tem um valor que vai além do CV. Um bom currículo não é necessariamente garantia do melhor candidato.
👉10 tipos de teste de Recrutamento e Seleção [+ Infográfico para download]
4) Neste período de crise, quais as maiores mudanças e desafios no processo de Talent Acquisition? Como garantir uma boa experiência do candidato mesmo à distância?
Esta pandemia apanhou-nos a todos de surpresa e obrigou-nos a adaptações rápidas e a sermos ágeis em novas formas de trabalhar. Anteriormente, cerca de 70% dos nossos processos de recrutamento eram realizados presencialmente e atualmente este valor foi invertido. Tivemos de realizar algumas adaptações mas na verdade já tínhamos a maioria dos nossos processos digitalizados o que nos permitiu ter uma boa e rápida resposta aos novos tempos.
O facto de recrutarmos para 17 mercados faz com que também já estivesse habituados a entrevistar a distância e a ter ferramentas apropriadas para fazer acontecer. Contudo, este novo modelo de recrutar a distância tirou-nos uma componente humana que é bastante relevante quando estamos a conhecer um potencial colaborador.
Garantir que avaliamos de uma forma justa todos os candidatos sem os conhecermos presencialmente, sem uma observação in loco do comportamento não verbal torna-se num dos maiores desafios.
Acredito que esta tendência venha para ficar, mas com o passar do tempo, será imperativo as empresas retomarem o contacto e a entrevista presencial.
Agora, na perspectiva do candidato, o recrutamento online poderá trazer-lhe mais vantagens que desvantagens. Vejamos, as entrevistas iniciam na hora combinada, minimizando-se ao máximo os atrasos que existiam com mais regularidade, fazendo com que o candidato não precise de tirar uma manhã ou uma tarde para realizar uma entrevista.
Há também uma poupança no custo da deslocação ao local da entrevista e uma flexibilidade maior para agendar a entrevista em horário laboral. Da nossa parte, recrutadores, cabe-nos garantir que o candidato se sinta acolhido e engajado com a entrevista mesmo existindo um ecrã a separar-nos.
👉Entrevista de emprego online: Dicas e tendências
5) Com base na sua experiência, acha que os requisitos para a contratação de novos talentos mudou? Quais novas competências surgiram neste contexto?
Sem dúvida. Hoje em dia tem de estar entre os propósitos das organizações, a contratação de novos profissionais, com habilidades para enfrentar o mundo pós-pandemia. É importante ressaltar que passado o susto da Covid-19, as empresas começam a preparar novas diretrizes que as tornem mais resilientes para uma possível pandemia próxima.
Isso significa que, cada vez mais, as organizações vão depender de novas tecnologias. Além das tecnologias, organizações mais resilientes também estão atentas ao que os clientes pós-pandemia exigirão.
Mas, para isso, elas precisarão de profissionais com novas skills, que lhes irão permitir esta adaptação. Entre essas skills estarão:
1. A adaptabilidade, flexibilidade e resiliência;
2. Conhecimentos e habilidades digitais;
3. Criatividade e inovação;
4. Pensamento Crítico;
5. Autonomia e inteligência emocional;
6. Gestão de tempo e de atividades.
6) O que considera fundamental para encontrar bons talentos? Como a empresa pode atraí-los de forma natural e ser referência no mercado?
Hoje, é preciso considerar que o ambiente externo tem mudado a todo o momento. E as melhores empresas travam uma verdadeira luta para chamar a atenção de talentos, de profissionais acima da média.
Uma prova disso é o crescente investimento em Employer Branding, estratégia de marketing que busca construir uma marca empregadora. E o caminho para encontrar bons talentos começa aí. Ter uma marca forte, reconhecida no mercado facilita muito o trabalho do recrutador e trás ao encontro da empresa as pessoas em que queremos apostar, aliciadas pela nossa presença e reconhecimento.
Para além desta aposta na marca é fundamental boas práticas de recursos humanos e uma política transparente de reconhecimento e progressão. Estes aspectos fazem com que as empresas sejam alvo de interesse e procura de novos talentos.
Para ser uma referência no mercado é necessário um bom investimento em marketing, um trabalho contínuo e constante em employer branding; estar à frente em novas tecnologias, na inovação; garantir um forte candidate experience; e saber para quem comunicamos.
7) De que forma o Employer Brading e Talent Acquisition estão relacionados?
Na área de atração de talentos, a estratégia de Employer Branding precisa estar extremamente alinhada com a estratégia de Talent Acquisition. A área de Talent Acquisition é a responsável por receber e materializar os resultados dos esforços feitos pela gestão da marca empregadora, e portanto, não há como ter sucesso se cada uma das áreas puxar a corda em direções opostas.
O Employer Branding (EB) desempenha um papel importante na atração e na permanência dos colaboradores. Além disso, apesar do EB e as suas práticas variarem, devendo ser adaptadas ao contexto das organizações, existem algumas estratégias que se destacam como a promoção do relacionamento entre as empresas e as Universidades, bem como, a oferta de oportunidades de formação e desenvolvimento profissional. O trabalho desenvolvido fornece aos profissionais envolvidos na gestão de pessoas e às empresas uma perspetiva holística e teórica que pode orientar a implementação do EB, assim como, a seleção das práticas de atração e retenção de talento mais adequadas.
Segundo um estudo do LinkedIn que foi partilhado recentemente, empresas com uma forte estratégia de Employer Branding conseguem duas vezes mais candidatos por vaga. E a probabilidade dos recrutadores receberem respostas dos candidatos que eles contataram é duas vezes maior também. Com mais candidatos e mais respostas fica fácil de perceber que a probabilidade de encontrar os melhores talentos aumenta muito! Além de conseguir encontrar, atrair e recrutar com mais eficiência, o Employer Branding também ajuda a reduzir o turnover nos primeiros seis meses em até 40%. Estes são dados que refletem bem a importânica do EB na aquisição de novos talentos.
👉Webinar Employer Branding na prática: Como desenvolver uma estratégia efetiva?
8) Como os responsáveis pela atração de talentos podem contribuir para incluir a diversidade e igualdade na realidade da empresa?
Muitos especialistas têm estudado o tema da diversidade e afirmam que organizações que subsistam e evoluam no mercado de trabalho necessitam de trabalhar num ambiente diversificado, que trabalhar em equipas diversificadas é benéfico para a organização, potenciando a entrada de inúmeras e diferentes perspetivas e ideias para a estrutura organizacional.
O comprometimento dos gestores com a valorização da diversidade e o papel dos responsáveis pelo departamento de recursos humanos no desenvolvimento de uma cultura organizacional que apoia e alimenta a diversidade são os principais impulsionadores de uma eficaz gestão da diversidade.
A Gestão de Recursos Humanos, e mais especificamente as equipas de talent acquisition por serem a “porta de entrada”, tem uma importância preponderante na composição de uma equipa de trabalho diversificada. Isto porque, esta neles a possibilidade de recorrer ao recrutamento, interno ou externo, para promover a diversidade, que pode ser ao nível da idade, questões de género, orientação sexual, raça entre outros.
9) Acha que a tecnologia ajuda os profissionais nas atividades de RH? De que forma ela pode contribuir para o trabalho de atrair novos talentos?
Sem dúvida alguma. A contratação de profissionais diferenciados e que se enquadram na cultura da empresa nem sempre é uma tarefa fácil para os recrutadores e os processos de seleção de sucesso são, geralmente, antecedidos por um bom recrutamento, que inclui a estruturação e divulgação do cargo, captação de talentos e escolha dos instrumentos e métodos de seleção adequados.
Para otimizar esses processos, a tecnologia é sempre uma grande aliada, uma vez que oferece um grau de assertividade maior nos resultados e ainda auxilia em importantes etapas, como a de testes comportamentais e psicológicos que mapeiam as skills dos candidatos.
Desta forma, a tecnologia poderá ser um precioso aliado nas seguintes situações:
- Aplicação de testes psicométricos;
- Divulgação das vagas e gestão das mesmas através de plataformas de recrutamento; • Otimização na captação de talentos;
- Diminuição das distâncias;
- Organização dos processos de seleção.
A tecnologia veio para ajudar os profissionais a desenvolverem um trabalho cada vez mais complexo em menos tempo e maximizando custos e recursos. Tudo isso significa menos tempo investido na parte burocrática de cada etapa, e mais tempo dedicando-se às tomadas de decisão fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.
Assim, todas as soluções tecnológicas para auxiliar nos processos de seleção podem e devem ser utilizadas em conjunto, já que todas possuem benefícios importantes de otimização de tempo, além de precisão nos processos – o que vai melhorar ainda mais o fluxo de trabalho.
10) Na sua opinião, quais são as tendências para o setor? Como os próprios talentos podem se preparar?
As tendências para os próximos anos não se resumem apenas às novas carreiras, às novas funções que poderão surgir. O perfil do trabalhador e a maneira de se trabalhar também estão em mudança. No nosso sector, construção civil, temos de nos capacitar de talentos que consigam responder aquilo que é a evolução natura da área.
Precisamos cada vez mais de candidatos com mindset e competências nas áreas da inovação, sustentabilidade e novas tecnologias digitais, por exemplo. Temos também de pensar que a forma de trabalhar mudou. O homeoffice veio para ficar e terá de haver uma adaptação natural a essa nova realidade.
Para responder a todas estas mudanças/transformações os talentos devem procurar desenvolver competências que se coadunem com estas necessidades. Por isso acredito que competências com a inteligência emocional, flexibilidade, pensamento crítico e analítico, capacidade no domínio de ferramentas tecnológicas serão determinantes no sucesso de cada profissional.
Investir em formações do âmbito comportamental poderá também ser uma vantagem competitiva no atual momento em que o mercado se encontra.
👉Quer otimizar o recrutamento e a seleção de talentos na sua empresa? Veja a seguir como o software de RH da Factorial pode ajudar:
Esse e muitos outros recursos disponíveis para otimizar a atração de talentos da sua empresa e contratar os melhores profissionais!